Odisséia de um tornozelo quebrado 1ª Parte

Quando tudo começou ou,  melhor dizendo, aconteceu...

Tenho sempre em mente que tudo que acontece não é por acaso, há sempre algo para aprender, para compreender e, principalmente quando envolve dor, para sofrer.

Meu nome é Eliane e alguns dias antes de completar 38 anos, exatamente 5 dias antes, tive a infelicidade de ir ajudar uma “amiga” de trabalho e acabei caindo de alguns metros de altura e na hora do tombo senti aquele barulho característico de osso quebrando que a gente ouve  muito em filmes de ação e, podem acreditar, o som é aquele mesmo... horrível. Pensei que tinha me quebrado inteira e quando já estava no chão eu pedi a Deus que fosse somente um susto. Na verdade tudo que passa na cabeça da gente no momento de um acidente é de estar num pesadelo, quase inacreditável, uma sensação horrível.

Enquanto aguardava o socorro, me deu uma zonzeira, um enjôo, um desespero total e muita, mas muita sede. Depois da romaria entre hospital, ambulatório, raio x, resumindo: nenhum diagnóstico preciso, apenas que estava quebrado e bem quebrado. Por não haver centro cirúrgico aqui na minha cidade precisei ficar hospitalizada até o dia seguinte para poder ser encaminhada a outra cidade e aí sim, receber diagnóstico e ver o que precisava e o que poderia ser feito.

Que noite horrível aquela, eu estava com o pé praticamente moído pelo impacto e sozinha, pois meu marido tinha que ficar com as crianças e a noite durou mais ou menos umas cinqüenta horas. Tomei medicamentos fortes para acalmar a dor, sedativos para dormir, mas nada adiantava. A dor era insuportável, quase morri e o pior de tudo era a incerteza do que realmente tinha acontecido. No dia seguinte fui transferida e a viagem interminável me amedrontava mais, chorei muito...

Fiquei internada durante 3 dias do mesmo jeito que cheguei, fiz mais uns raio x, uma ressonância e no dia  28/03 fui operada. Tudo que posso contar é o barulho de uma serra elétrica, furadeira, me sentia toda serrada tipo aquela mulher que o mágico serra... Brincadeiras a parte, mas aquilo foi horrível e eu estava sendo literalmente serrada mesmo  e só queria dormir e acordar quando tudo estivesse terminado e assim foi.  Acordei meio mole, pois a anestesia foi aquela rack que deixa a gente abobada se sentindo sem a parte de baixo do corpo quando acorda. Fiquei sem coragem de olhar pro meu pé, mas fui levada pra fazer um raio x e daí o inevitável choque quando vi aquele mundaréu de ferro. Perguntei pro enfermeiro pra que isso (na verdade eu queria dizer: o que fizeram comigo? Virei uma exman? Pra que essa parafernalha toda? ) e ele respondeu: São fixadores externo de ossos. Eu hein! Me senti uma carne espetada pronta pra ir pra churrasqueira. Não entendi o que tinham feito, saía muito sangue... credo!!

Mais tarde o médico veio até o quarto e disse que havia sido uma das fraturas mais graves: FRATURA DE PILÃO TIBIAL. Fiquei sabendo também que, além de ter quebrado esse tal pilão dessa tal tíbia, quebrei a fíbula e outros ossinhos que nem lembro o nome. Com meu tornozelo, literalmente moído, estava imobilizada e, naquele momento,  eu me sentia um tanto aliviada porque não sentia dor, isso já era um bom começo. Perguntei sobre minha recuperação e recebi a triste notícia que iria mais ou menos 1 ano....  MEU DEUS 1 ANO!!!!, sim só pra voltar pisar no chão uns 4 meses.  Chorei novamente (sou uma bocuda mesmo).

Retornei pra casa no dia 30 de março, meu aniversário, e fui recebida com festa e mais festa. Não sei se o povo queria comemorar meu retorno ou foram me ver só de curiosidade ( ai que maldade). Mas enfim estava em casa e bem, graças a Deus, o pior é que eu não sabia que o pior, mas o pior mesmo seria eu me acostumar com cadeira de rodas, cadeira de banho, muletas...  eu que sempre fui ativa, não parava um instante sequer, tive que me acostumar a ter a tal paciência. Mas isso é uma outra história.

odisséia (o-dis-séi-a)

s. f.

Fig. Viagem cheia de aventuras extraordinárias.

Série de acontecimentos e peripécias estranhas e variadas.