Aprendendo o que é dor de verdade
Durante minha estadia com os tais fixadores externos de ossos tive todo cuidado e a cicatrização foi rápida. Eu também estava com uma placa do lado esquerdo da canela e os pontos cicatrizaram bem. Aprendi a me locomover com os fixadores e iniciei o uso das muletas (as quais não tinha idéia que iriam ficar tanto tempo comigo). Eu não sentia dores, nem nada. Me atrapalhava um pouco para tomar banho na cadeira, um sufoco atrás do outro, medo de cair, medo de machucar , algumas vezes eu acabava ralando uma perna na outra e o resultado foram muitos arranhões na outra perna que não tinha nada a ver mais levou um pouco...
No dia 19. voltei ao ortopedista e ele me disse que haveria uma outra cirurgia para retiradas dos fixadores e a colocação de um fixador de pilão (interno) eu fiquei um pouco insegura por ser semana da páscoa então dei uma chorada e ele, gentilmente, deu uma chance e marcou para o dia 25/04.
Depois da semana da páscoa, exatamente dia 25 voltei ao hospital e esse dia vai ficar na história de um dos dias mais sofridos da minha vida. Cheguei confiante no hospital, fui sozinha (pra variar) fiz a ficha de internamento, fui para o quarto e nem deu tempo de respirar já me chamaram no centro cirúrgico. Estava tudo normal até terminar a cirurgia e eu ir para o quarto.
Meu Deus como chamei Deus!!! Imaginem a pior batida na canela... Imaginaram? Então era 1.000 vezes pior quando passou a anestesia.
Como gritei e chorei implorando Deus que me acudisse me tirasse aquela dor. Era quase insuportável. Eu estava agora com uma tala de gesso super pesada e a dor, gente do céu, nunca senti nada parecido. Tomei muita medicação pra parar a dor, e olha que eu sou forte, metida a durona, mas chorava feito criança, ou melhor dizendo, gritava feito uma louca de tanta dor. Fiquei aquela noite no hospital e no outro dia pela manhã o médico fez a visita de rotina e me explicou tudo que havia sido feito e disse que a dor era impossível não sentir, me receitou um remédio pra dor muito forte, que deixava minha boca amortecida e meus olhos pesados ( PACO) e me mandou pra casa (tenho pra mim que foi por causa do choreiro que fiz a noite inteira). Cheguei antes do meio dia em casa, gritando de dor, parecia que eu ia vomitar meu pé de tanta dor, sem exagero, doía muito.
Passei uns 10 dias na cama sem poder erguer a perna, doía muito... Vivia tomando remédio pra dor e a dor tava lá, latejando, gritando pra mim me arrepender de ser metida e largar mão de ajudar quem não merece.
Minha irmã Silvia e minha sogra foram tudo pra mim. Cuidando da minha casa, cuidando de mim e das minhas crianças. Estou contando mais sobre minha fratura pois se eu for contar sobre outras coisas, auto estima, revolta, e tudo mais que ocorreram nesse tempo daria um livro. Posso adiantar que sofri muito com tudo isso.
Voltei ao médico dia 19/05 achei que quando fosse abrir o tal curativo e tirar a tal tala de gesso o pé estaria podre de tanto que doía, mas para minha surpresa quando a enfermeira retirou as ataduras bem duras e preta de sangue velho as cicatrizes estavam sequinhas, ela retirou os pontos e colocou novamente a tala de gesso (pesada pra caramba) e estava liberada.
O ortopedista me indicou uma bota ortopédica (robot foot) e 20 sessões de fisioterapia. Demorei a começar a fisioterapia por causa do inchaço que não tinha meios de desaparecer e a bota nem entrava (sem falar que ainda doía muito). Tinha momentos em que o desespero batia tão forte que eu chorava pedindo que aquela agonia tivesse um fim. Eu que sempre fui ativa, gostava de pular e dançar, fazia meu dia ter 30 horas pelo tanto que aproveitava, agora estava ali naquela cama, muitas vezes sozinha... Com dor no pé e no coração... Amigos? Amigos mesmo de verdade? Isso é outra história... Fica pra parte 3 e, adiantando, vou falar de acessibilidade na parte 4.
Bjs